Anno Mundi - 07/01/2021


Sinto muito; acabou a comoção do ano novo.

E, sem ela, caem por terra as falsas resoluções de transformação e promessas vazias de mudança. Exatamente como deve ser. O crescimento é uma responsabilidade. Sua responsabilidade. E enquanto você não enxergar essa verdade absoluta, jamais avançará um passo sequer sem sucumbir à primeiríssima provação que indubitavelmente surgirá no caminho. Dia após dia, você luta contra forças exponencialmente maiores que a sua "força de vontade". Terrivelmente mais intensas que a sua "determinação". Infinitamente superiores à sua "persistência".

E você perde. Como perderá amanhã. E semana que vem. E mês que vem. E ano que vem. Até o fim da sua vida.

Porque você é fraco. Você é minúsculo e miserável. Você é incapaz. Ou, melhor colocando, uma parte sua é. E é justamente nessa parte que você confia, ignorando completamente o fato de que a realidade não se limita à ínfima experiência da sociedade contemporânea. Nossa espécie resistiu e superou as mais terríveis adversidades, naturais e artificiais. De guerras e cataclismas a pestes (de verdade) e fome. Do frio cortante das tundras nortenhas ao calor escaldante das florestas tropicais.

Ao longo de dezenas de milhares de anos, peregrinamos das planícies africanas a cada um dos quatro cantos do mundo.
E hoje você perde a batalha contra uma garrafa de Coca-cola. O que aconteceu conosco? Somos os mesmos. Somos Homo sapiens. Temos o mesmo corpo. A mesma constituição genética. A mesma capacidade cerebral.

Mas não o mesmo Espírito.

A humanidade vive hoje na sombra da mais absoluta miséria - mesmo apesar de nossas vidas infinitamente mais fáceis e nossos recursos infinitamente mais abundantes - pelo simples motivo de que esquecemos quem nós somos. E quem somos nós? Nossos antepassados sabiam muito bem a resposta. E tiravam seu vigor não de "força de vontade", mas da Terra, do Ar, do Fogo e da Água. Ds cada um dos alimentos sagrados que são presente da natureza; da luz e do calor intenso do Sol; da paz, do silêncio e da escuridão profunda da Noite. Do respeito ao sublime equilíbrio sistêmico de seus corpos perfeitamente elaborados pela inteligência divina. 

E tiravam sua clareza não de "determinação", mas sim da obediência aos códigos e linguagens universais; de simbologias e interpretações ricas em propósito; de filosofias e doutrinas que se preocupavam mais com a fábrica da realidade do que com minúcias mesquinhas e teorias impraticáveis. Da compreensão do caráter inerentemente obscuro de suas mentes, cujo abismo da inconsciência carrega as respostas para perguntas que desconhecemos. 

E tiravam suas conquistas não de "persistência", mas sim de seus deuses, heróis e anciãos; de suas tradições, de suas raízes e de sua família; de sua individualidade como parte crucial do coletivo, ainda que independente dele. De seu espírito que vibrava em perfeita harmonia com tudo que existe além da limitada percepção de nossos primitivos sentidos.

Não existe nenhum segredo complexo que esconde a chave para o fim de nossas maiores aflições.

Não existe avanço científico nem desenvolvimento tecnológico capaz de espremer do mundo externo aquilo que existe somente dentro de nós. Não existe nem nunca existirá criação humana capaz de trazer à nossa existência o sentido, a plenitude e a perfeição intrínsecos à Criação Divina.

Lembre-se de quem você é. E não haverão mil anos de ruína capazes de esconder a infinitude contida em um único segundo de lealdade à sua verdadeira essência. Você é infinitamente mais. 

Feliz ano novo.

"Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou e lhes disse: "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra." (Gênesis 1:26-28)